sábado, 27 de março de 2010

( IV )GNOSTICÍSMO E CATOLICÍSMO

O arco temporal que cobre o período que se inicia nos anos que precederam o nascimento de Jesus, que passa pela sua morte e ressurreição, e se estende até o ano em que o imperador Constantino I transformou o império romano em uma monarquia de direito divino, foi fecundo em religiões cristãs. Em verdade, depois que a cruz do Gólgota iluminara o mundo, muitos foram os que tentaram interpretar, cada um a seu modo, o motivo da vinda de Cristo, a essência da sua mensagem e a sua natureza.
Entre estas religiões, lutando com suas oponentes, abria vagarosamente o caminho a doutrina dos apóstolos cujos seguidores, de origens judaica (Jesus, assim como seus pais, eram judeus descendentes da estirpe do rei David, assim como eram judeus seus discípulos), mesmo tendo se convertido ao cristianismo, por não desejarem abandonar suas velhas tradições, apresentavam exigências que, somadas aos sonhos do imperador Constantino - e depois de Teodosio, só foram completadas quando parte dos velhos livros da tradição judaica, rotulados velho testamento, foram inclusos nas escrituras sagradas.
Um exemplo desse comportamento foi oferecido pela igreja de Jerusalém. Tiago, seu fundador, a manteve judaica em sua orientação e, mesmo sendo irmão de Jesus, não considerava a sua natureza igual a Deus. Devido a este aspecto, a comunidade cristã de Jerusalém continuou leal ao Templo de Salomão e ao Torah até sua cidade ser destruída em 70 d.C. Alem disso Tiago e Pedro, este ultimo segundo a bíblia a maior expressão da liderança da comunidade cristã de Jerusalém, postaram-se contra á versão do cristianismo levada adiante por Paulo de Tarso. Esta divergência pode ser notada nas Epistolas de Paulo e nos Atos dos Apóstolos. Nestes testos encontram-se evidencias de que ambos repudiaram alguns ensinamentos de Paulo. Apesar destes aspectos, porem, o cristianismo cresceu e se desenvolveu, mesmo se na Roma daqueles tempos era uma seita proibida, e por assim ser, seus seguidores eram perseguidos, e se presos, castigados severamente. Era a epoca das catacumbas da Via Appia.
Os anos transcorreram, e quando em 306 o filho do tetrarca Constâncio Cloro, Constantino I, se tornou imperador, percebendo que o numero de cristãos, apesar de perseguidos e mortos (eram sacrificados nos espetáculos circenses que divertiam o povo, mas não abdicavam da sua fé), era sempre maior, se convenceu que a sua força em continuo crescimento poderia se converter em uma subversão. Roma, que havia experimentando o gosto amargo de muitas rebeliões dentro e fora de seu perímetro tinha que impedir a eclosão de outra fomentada por homens que, em nome de um deus desconhecido que chamavam Jesus, se tornavam cada vez mais fortes.
Contudo, havia problemas mais urgentes, e entre estes, o que era representado por Maxêncio, o filho do tetrarca Maximiliano. Enquanto ele havia sido nomeado “Augusto” pelas suas tropas estacionadas na Grã-Bretanha no dia 25 de julho, meses depois, no dia 28 de outubro, os pretorianos e a plebe de Roma nomearam Maxêncio imperador. Os dois haviam sido elevados ao poder ilegitimamente, mas, mesmo assim, ninguém queria abrir mão dele. Por este motivo, em 312, Maxêncio, que estava acampado com aproximadamente 188.000 soldados na região que havia sido barbarizada por Galério, decidiu retornar à Roma para depô-lo. A vitória, como vimos, sorriu para Constantino que o derrotou na batalha da ponte Milvio, em Roma.
Eliminado Galério, Constantino voltou a se preocupar com os problemas do império, e entre eles, o que era representado pelos cristãos. Logo se deu conta que ao invés de continuar proibindo seus cultos, era preferível permiti-los. Não gratuitamente porem, ou correndo o risco que essa decisão viesse a ser interpretada como um sinal de fraqueza, mas mediante um processo que resultasse em um fortalecimento político. A estratégia logo foi articulada, e com ela, as medidas que deveriam influenciar, no médio prazo, um único cenário religioso. Conseqüências: entre muitas outras datas, no dia 25 de dezembro, a data em que no culto a Ísis e Osíris (a religião egípcia que invadira Roma desde 200 a.C da qual o proprio Constantino era o sumo-sacerdote), se comemorava o nascimento do filho Horus, passou-se a celebrar, no cristianismo, o nascimento de Jesus Cristo.
Muito antes do advento do Nazareno, como vimos, por ter havido adesão maciça ao credo Egípcio, especialmente pelas classes menos favorecidas, em Roma foram erguidos inúmeros templos a Isis e Osíris. Entretanto, o maciço movimento de adesão a esta crença, visto com suspeita pelas autoridades porque viam nele potencialidade subversivas, como aconteceu posteriormente com os cristãos, levou o Senado a ordenar a perseguição aos seguidores de Ísis e a destruição de todos os seus templos. Contudo, apesar de estarem cientes das possíveis conseqüências, ninguém teve a coragem de obedecer às ordens recebidas. Tempos depois, como também vimos, o culto foi oficialmente proibido por Júlio Cezar.
Entretanto, no ano 43 a.C., o triunvirato, inesperadamente, ordenou a construção de outro templo a Ísis e Serápis (a versão de Osíris dos gregos), e tal ordem, aparentemente, era o reflexo do relacionamento entre Marco Antonio e Cleópatra, visto que comumente ela era retratada como a própria Ísis com o marido Osíris.
Posteriormente, agora a mando do imperador Tibério, a perseguição aos seguidores de Ísis foi novamente implementada: seus sacerdotes foram crucificados e mais de 4.000 fieis foram exilados.
A fé, no entanto, mesmo mantida oculta, sobreviveu, e o culto à Ísis, no primeiro século da era cristã, havia se difundido também entre as classes mais altas incluindo alguns imperadores: Calígula, mesmo se não pode ser acolhido como um bom exemplo, por razões políticas, claro, não somente liberou o culto, mas promoveu a construção de novos templos e instituiu o festival de Ísis.
Mas porque tanta devoção a Isis? Se lembrarmos o que foi lido no titulo “Os Egípcios”, nos daremos conta que a veneração à Ísis, especialmente nas classes humildes, era devida à sua promessa de salvação e redenção, além da benção da vida eterna após a morte, desde que merecida, de conformidade com o Evangelho de Osíris. O culto a Isis, foi a religião que mais se fortaleceu entre as demais pagãs, porque oferecia a vida eterna... até que encontrou no cristianismo o seu grande rival.
As duas religiões, então, se transformaram em um terreno muito fértil para discussões, brigas e matanças, porque substancialmente ofereciam as mesmas coisas: confissão, batismo e vida eterna. A Egípcia através de uma deusa de certa forma abstrata, e a Judaico-cristã por um homem que havia vivido entre os homens e que depois de morrer, segundo era dito, havia ressuscitado.
Agora está claro porque o imperador Constantino, ao invés de continuar combatendo os cristãos, decidiu tê-los como aliados. Contudo, para ir adiante em seus planos, o imperador necessitava fortalecê-los muito mais do que já eram.
Em Roma, até então, mesmo se os cristãos se deixavam matar em nome do Nazareno, nada, alem da sua fé, podia ser comprovado, porque enquanto alguns afirmavam que era o filho de um deus, outros diziam que era um homem como todos os demais homens. Sendo assim, Jesus poderia ser somente mais uma lenda entre as muitas que já existiam. Apesar disso, como alguém que havia sido crucificado, ao invés de ser esquecido, passara a ser venerado por um numero de cristãos que não parava de crescer?
Dizia-se que era o Messias, aquele que os hebreus esperavam para liderar seu povo como outrora havia feito Jhwh, o Senhor dos Exércitos, que guiara Josué á gloria por vencer todas as batalhas contra as muitas tribos que habitavam Canaã. No entanto, haviam sido os próprios judeus a pedir a Poncio Pilatos que fosse justiçado! Se o procurador romano os havia atendido martirizando-o com a crucificação (um suplicio reservado aos seres mais repulsivos), e ele havia morrido, então realmente era um homem como qualquer outro. Deste modo, se por um lado seus discípulos afirmavam que era o filho de Deus, do outro, os hebreus, o único povo que acreditava nesse Deus, lhe haviam negado a paternidade que ele afirmava ter. Não, não era prudente apostar todas as fichas nele!
Constantino, então, sabiamente concluiu que antes de utilizá-lo para os seus fins, Jesus devia ser divinizado, reconhecido oficialmente como Filho de Deus pelo império romano, que era a maior potencia do mundo.
Nesta epoca, havia dezenas de credos, doutrinas e religiões: Bramanismo, Budismo, Cabala, Orfismo etc., e na linha do cristianismo floresciam importantes filosofias religiosas chamadas gnósticas, cujos adeptos acreditavam que possuíam um conhecimento de Deus muito mais real daqueles que lideravam o catolicismo nascente. Como gnósticos, haviam sido designados os grupos filosófico-religiosos que alcançaram seu apogeu entre o II e III século nos maiores centros culturais do mundo, e entre estes, os que mais se destacavam eram os de Marcione, Valentino, Basilide, Simon Mago, Mani e Ario.
Até ser encontrada em 1945 em Nag Hammadi, no alto Egito, uma quase inteira biblioteca gnóstica, os estudiosos do gnosticismo não dispunham de nenhum documento original para estudá-lo, e a razão disso era obvia: haviam sido destruídos depois do Concilio de Nicéia. Desse modo, as únicas informações para o estudo destas doutrinas, limitavam-se as que eram citadas nos documentos escritos por aqueles autores cristãos que tinham assumido a defesa da ortodoxia cristã, como Ireneu, o Bispo de Lion e muitos outros.
Estes, em seus escritos afirmavam que o cristianismo estava sendo atacado por “movimentos” que se colocavam declaradamente em posição alternativa ao catolicismo, utilizando textos falsos como os Evangelhos apócrifos, que não eram - como até hoje não são - reconhecidos pela igreja. Todavia, segundo os historiadores religiosos, os Evangelhos apócrifos, aproximadamente oitenta, provam sobejamente que se aproximam muito mais, em suas descrições da realidade vivida pelo “homem Jesus”, enquanto vivo, daqueles que segundo a tradição católica foram escritos por Lucas, Mateus, Marcos e João.
Nas sagradas escrituras, diz a teologia católica, existe um dualismo suave: matéria e espírito, corpo e alma, o bem e o mal, o Deus Criador de um lado e o homem e o universo do outro, mas os dois fazendo parte de um projeto divino: o homem é feito a imagem e semelhança de Deus e a criação contem a marca do Criador.
Para o gnosticismo, criticavam os pais da igreja, existe uma diferencia radical entre Deus e a realidade material: O Espírito é substancialmente estranho uma vez que seu relacionamento com o mundo material não contribui de nenhuma forma para a elevação espiritual do homem. Nos textos elaborados para defender o cristianismo, afirmava-se que para os gnósticos a relação entre o Ser Supremo e a natureza correspondia à que existe entre o espírito e a matéria, ou a alma e o corpo. Para eles, o espírito, corresponde a uma pequena parcela divina com vocação para se reunir ao Ser Supremo, portanto eterna, enquanto o corpo é um cárcere – para manter a alma prisioneira - destinado a se transformar em pó. Os gnósticos inserem esta teoria em um cenário astrológico totalmente “pagão”: para se reunir ao corpo, o espírito deve chegar a terra, atravessando um depois do outro os planetas, e nesta queda, no mundo sublunar, o espírito, antes de entrar no corpo material, recebe uma espécie de invólucro, chamado corpo astral, que se transforma em cada uma das esferas planetárias pelas quais estagia.
Mesmo se a relevância do gnosticismo declinou a partir do IV século, ele sobreviveu nos sucessivos, assumiu novas formas e alcançou, em alguns momentos, dimensões inusitadas como a dos cátaros, a das ciências pagãs como a alquimia e a astrologia, e a publicação, em 1.463, do “Corpus Hermeticum”, uma serie de escritos sapienciais atribuídos a Hermete Trimegisto, encontrados, como se afirma, em uma sepultura.
Foi no decorrer destes séculos que a Bíblia, seja ao nível dos velhos livros hebraicos - o velho testamento - bem como no conteúdo do novo testamento, é submetida a sucessivas reformulações para “purificá-la” dos testos indesejáveis, e incluir os apropriados para “encaixar”, da melhor forma possível, não só o novo ao velho testamento, mas também as dogmatizações adequadas para que a igreja católica apostólica romana pudesse seguir o caminho que desejava percorrer sem maiores inconvenientes.
Estas “acomodações”, que incluem preconceituosamente, entre outras, a tradução da palavra “mulher jovem, moça”, utilizada no texto original aramaico, para “virgem”, inicialmente na língua grega e depois para o latim, fizeram parte de um planejamento estratégico considerado imperativo não só para permitir a manutenção de um relacionamento aceitável entre as hierarquias religiosas (uma vez que entre elas também havia gigantescas discordâncias), mas para aprimorar seu posicionamento em relação ás demais doutrinas cristãs existentes, algumas das quais, naquele momento, muito mais poderosas.

Marcione, que antes do II século havia escrito “Omodeo” - publicado pela primeira vez em 1940 - procurava reformar a crença, as escrituras e o teor de vida da igreja de acordo com seus pontos de vista, e desta forma, indiretamente, contribuiu para a formação do cristianismo.
Diante desta tentativa e a sucessiva formação da igreja marcionita, o cristianismo, que depois se autodenominou igreja católica apostólica romana, foi coagido a rever sua própria doutrina, a melhorá-la, a definir o cânone de suas próprias escrituras, a enfrentar o problema de conservar ou não entre elas os textos do velho testamento, e a voltar a definir seu próprio posicionamento diante da pretensão de alguns de impor o asceticismo (conjunto de praticas de abstinência com fins espirituais ou religiosos. Em outras palavras, impor uma vida austera e a continência absoluta como norma de vida de todos os cristãos), a proibição do prazer carnal e a total moderação das palavras e dos gestos.
A “crise” provocada pelo marcionismo, provocou graves preocupações nas hierarquias mais elevadas do clero, e se transformou no forte empurrão que precipitou a igreja católica na revisão do conteúdo da sua fé: os cânones dos livros sagrados, a disciplina interna da comunidade e a definir as noções do Deus cristão com a conservação parcial das escrituras do velho testamento e das concepções bíblicas. Desta forma, estava sendo preparada a base sobre a qual, tempo depois, se desenvolveria inicialmente a obra de Clemente de Alexandria - mestre de Orígenes, e depois do próprio Orígenes de Alexandria.
Harnack foi um dos que reconheceram a importância de Marcione, porque em Lipsia, entre os anos 1922 a 1924, dedicou a ele um estudo especifico jamais traduzido para outras línguas: “Marcion: das Evangelium frendem Gotte“, em português “Marcione: o Evangelho do Deus estrangeiro”, comparando-o a Lutero em certos aspectos como a reivindicação da livre interpretação das sagradas escrituras.
Outros, porem, lhe impuseram limitações, como Alfred Loisy, Teólogo francês que acabou sendo excomungado pelo seu trabalho criticando a bíblia, op.cit, pp.433ss - reconhecendo, no entanto, que se Marcione não chegou a ser um grande “expert”, seu objetivo era reformar, melhor dizendo, reinstituir o cristianismo que, segundo ele, tinha se desviado de suas origens -pp.433-34.
Os heresiólogos cristãos ortodoxos como Tertuliano, cujo nome era Quinto Septimio Florente, e Justino, o primeiro apologista cristão de Cartago e autor de uma Apologética - parte da teologia que tem como objetivo a defesa da religião cristã contra o ataque e objeções de seus adversários - lançaram-se em uma polemica contra os cristãos displicentes. O primeiro, em “Adversus Marciones” e o segundo, na sua “Apologia”, perseguiram Marcione com a finalidade de eliminá-lo do universo religioso. O rotulavam adepto do demônio e diziam que, com a colaboração deste, induzia os que os seguiam a blasfema e a heresia, não só porque afirmava que existiam dois deuses, mas porque repudiava o deus único hebraico, taxando-o mau e vingativo, e assim sendo, o enquadrava como Demiurgo (nome do deus criador na filosofia Platônica), em favor do Deus justo e bondoso de transcendência espiritual absoluta. Afirmavam que Marcione era um herege porque dizia que Jesus Cristo não era filho do deus guerreiro e injusto hebraico, que aniquilava os habitantes de Canaã para dar suas terras aos descendentes de Abrão, mas do puro e impessoal Deus de suprema bondade que era evocado por Jesus, sendo que este, segundo Marcione, só assumiu as características humanas para salvar o homem, mas que tinha morrido e ressuscitado sem em verdade jamais ter possuído um corpo físico.
Marcione, no seu espiritualismo gnósticos radical - diz Loisy - e no espírito do cristianismo primitivo voltado ao martirismo, prescrevia severamente jejuns, abstinências e castidade, descriminando até o matrimonio porque afirmava que “o cresceis e multiplica-vos” era um convite do pérfido Demiurgo. Chegando a negar o batismo para aqueles que não praticavam este rigoroso padrão ascético, aparentemente difundido entre os primeiros cristãos enquanto ainda não existia uma hierarquia eclesiástica. Nesta fase, Marcione teve a pretensão – segundo os críticos - mesmo sendo contestável, de querer que suas idéias fossem adotadas como cânones (decretos e regras concernentes à fé e a disciplina religiosa), por todas as comunidades religiosas nascentes.
Recusava o antigo testamento como faziam os demais gnósticos, e escolhia com exclusividade o Evangelho de Lucas e as cartas atribuídas a Paulo, que deliberadamente alterava afirmando que eram as únicas escrituras catequéticas cristãs (Omodeo, pp.416ss, 425ss), talvez, segundo Loisy, porque já eram utilizadas na comunidade romana.
Marcione acabou sendo excomungado e expulso por heresia, e alem disso, sempre segundo Tertuliano, pela incompatibilidade radical com as tradições judaicas, prevalentes e praticamente irremovíveis da longa história cristã. Marcione então fundou uma outra igreja, expressamente em oposição e com sólida organização, que chamou “a verdadeira igreja de Cristo”. Esta igreja teve muitos fieis e por algum tempo um incontestável sucesso.
Adorno, filosofo e musicólogo alemão (1903-1969), relata que por volta da segunda metade do II século, Justino escreveu na sua Apologia que o Evangelho de Marcione se estendia sobre toda a humanidade, e Tertuliano confirmou isso ao escrever que a tradição herética de Marcione havia preenchido o universo. De fato, no ano 400, ainda se encontravam fieis da igreja de Marcione em Roma, no Egito, na Palestina, na Arábia, na Síria e em Chipre (filosofia antiga, II, p.455).
K. Deschner, com o sub-titulo “Marcione, o primeiro fundador de uma igreja” registra entre outras coisas o extraordinário sucesso de Marcione, afirmando: o Marcionismo foi uma grande igreja que se estendia do Rio Eufrates até o Reno, abraçando o inteiro império romano. Uma instituição que possuía, refletindo as organizações religiosas antigas, uma hierarquização maior do que o próprio Catolicismo. Mas não foi a igreja de Marcione a copiar a estrutura da católica, uma vez que essa só começou a se estruturar no fim do II século para se consolidar no III após o concilio de Nicéia. Antes dela, “a verdadeira igreja de Cristo”, a igreja de Marcione, já possuía um novo testamento, bispos e monges.
Ireneu, bispo de Lyon (Ásia menor 130-208), que combateu os gnósticos através da sua obra “Adversus haereses” III, 3-4, diz a Policarpo, bispo de Smirne, a quem Marcione pedira para reconhecer seu Evangelho, que Marcione era o “primogênito de Satanás”. E demonstrando sua intransigência e grosseira fé apostólica afirmava: “quem quer que seja que não admita que Jesus Cristo veio na carne é um anticristo. Seja quem for que não confesse o testemunho da cruz procede do diabo e quem perverte as palavras do Senhor de acordo com seus interesses, e além disso diga que não houve a ressurreição do corpo de Jesus, nem juízo final, este é o enviado do anticristo”.

Valentino, outro famoso teólogo gnósticos do segundo século, fundador da religião dos “valentinianos” e grande adversário da nascente igreja cristã, nasceu em Cartago e se transferiu ainda jovem para Alexandria do Egito. Nesta cidade estudou com o mestre Teodas aquele que afirmava que por ter sido discípulo dos apóstolos, aprendera com eles o que o Cristo efetivamente ensinara.
Em Alexandria, Valentino começou a ensinar, mas logo depois foi à Roma para ser diácono. Exercendo esta função, devido a sua popularidade, chegou a ser indicado para ser Bispo nesta cidade, contudo, por ter sido preterido, sempre segundo Tertuliano, desiludido, abraçou o gnosticismo com tanta vitalidade que acabou sendo excomungado pelo Papa Pio I no ano 143. Seus últimos anos foram transcorridos em Chipre, onde segundo alguns morreu no ano 165 e por outros em 180.
Sua doutrina, uma complexa fusão sincrética entre o neoplatonismo e a religião judaica, iniciava com um “Eone” masculino – abismo - e um “Eone” feminino – silencio - de cuja união haviam nascido o intelecto e a verdade, e em seqüência, em cascata, toda uma serie de Eones que se subdividiam em oito Ogdoade, nascidos da fusão de dois Tétrades, quatro Eones, depois dez decades e finalmente doze dodecades, que, todos juntos, formavam o “Pleroma”: a plenitude. Segundo ele o mundo visível e os homens haviam sido criados pelo hostil demiurgo “Achamoth”, rei do mundo psíquico celeste - o chamado sétimo céu de Ebdomade. Achamoth, por sua vez, tinha sido gerado pelo Eone Sophia a ultima das Dodecades que havia sido expulsa do Pleroma.
Os homens dividiam-se em:
1 Ilici, ou terrenos.
2 Psíquicos, que acreditavam no Demiurgo mas ignoravam a existência do mundo espiritual a ele superior.
3 Pneumáticos ou espirituais, os que eram dotados, sem o saber, com a luz divina, pnéuma.
Para trazer aos pneumáticos o conhecimento - gnose - da potencialidade que eles desconheciam, foi enviado á Terra o Eone Cristo que encarnou no homem Jesus no momento em que foi batizado, afastando-se, depois, quando da sua crucificação. Sendo assim, por ter surgido ou aparentemente passado a existir, os homens acreditaram que ele foi crucificado quando em verdade nada disso aconteceu porque foi só uma ilusão.
Este conceito, comum entre os gnósticos, foi denominado “docetismo”, do grego ”dokéin”, que significa aparecer.
Os Psíquicos, entretanto, através da fé e das boas obras, poderiam almejar no máximo ao reino psíquico celeste do Demiurgo, enquanto, infelizmente para os Ilici, para estes não havia esperança de salvação.
São atribuídos a Valentino alguns dos textos encontrados em Nag Hammadi em 1945/6, como o Evangelho da verdade, o Evangelho de Felipe, a carta a Regino e o conhecido “Tractatus tripartitus” - tratado a respeito das três naturezas: espiritual, terrena e psíquica.

Basilide, originário de Alexandria, no Egito, foi um dos maiores expoentes do gnosticismo. Sabe-se pouco a seu respeito à não ser que teve um filho, Isidoro, seu discípulo, que estudou com Glauco, porque este proclamava que havia sido discípulo de Pedro, o apostolo, e de ter aprendido deste os ensinamentos secretos de Cristo.
Basilide afirmava que a mente – nous, havia nascido de um primordial “não-ser” ou um “ser sem nome” chamado Abrasax. Que da Mente havia nascido à razão - Logus - e desta a prudência - Phronesis, mãe da Sabiedade – Sophia, e da Força –Dinamys. Finalmente, da Prudência e da Força haviam nascido os arcanjos. Estes, multiplicando-se, formaram os 365 céus, cada um correspondendo a uma ordem Angélica.
O ultimo dos céus era povoado pelos anjos criadores do mundo material e protetores das principais nações, e o mais poderoso destes, Jhwh, havia se tornado o deus dos judeus.
Para salvar a situação o Pai “o não ser ou o ser sem nome” enviou para a terra seu primogênito Nous, aquele que veio a ser conhecido pela humanidade como Cristo. Este, porem, não morreu na cruz, porque quem foi crucificado no madeiro foi Simão da Cireneia aparentando ser Jesus. O cristo, por sua vez, travestido de Simão, retornou ao Pai.
Segundo Basilide a salvação era um problema da alma. Ela, sim, podia encontrar a paz através da oração, mas enquanto isso, o corpo, podia satisfazer livremente todos seus desejos sensuais. Por esta afirmação, Basilide e seus seguidores foram acusados de imoralidade.
O Basiliderismo sobreviveu até ao fim do IV século, mas a sua doutrina foi gradualmente incorporada aos ambientes gnósticos pela formula de Valentino. Escreveu uma exegética composta de 24 volumes a respeito dos Evangelhos, e um Evangelho segundo Basilide. Mas suas obras foram queimadas pelos católicos e os conhecimentos que se tem dele resumem-se aos que são expostos nos textos escritos pelos pais da igreja.

Simon Mago, a personagem citada nos Atos dos Apóstolos 8:9-25, nasceu na cidade de Gitta, perto de Samária, e por este motivo era também chamado Simão o Samaritano. Por volta do ano 20 d.C., Simon, na sua cidade natal, exercia a profissão de mágico (era médium), e como tal praticava coisas que, como ninguém entendia, eram chamadas artes ocultas.
Consta que quando ouvia as palestras de Felipe, Diácono cristão desta cidade, se extasiava e por esta razão veio a lhe pedir que o batizasse, solicitação que foi logo atendida. Algum tempo depois, vendo que o apostolo Pedro curava impondo as mãos (doação do espírito santo segundo os cristãos), lhe ofereceu dinheiro para adquirir este conhecimento, mas o que conseguiu foi a ira do apostolo.
Desta primeira tentativa de comercializar “o sagrado” nasceu o termo “simonia”, que significa trafico de coisas sagradas ou venda de bens espirituais, termo que viria a ter um peso relevante na diatribe entre os católicos e Lutero no XIV século.
Outros testemunhos dão conta, como o Evangelho apócrifo “Atos de São Pedro”, que Simon Mago também foi para Roma onde, como fizeram os apóstolos Pedro e Paulo, entre outras atividades que exercia também curava apondo as mãos.
Em Roma, aparentemente, chegou a se tornar mais popular do que o próprio Paulo, porque enquanto este pregava o cristianismo, Simon trabalhava como um mágico. Diz-se, inclusive, que contava com um maior numero de seguidores do que Paulo. No entanto, depois de conseguir fama e gloria, um insucesso durante uma de suas demonstrações lhe causou a morte. Existem duas versões a respeito.

A primeira diz que Simon não conseguiu superar a prova de permanecer sepultado vivo durante tres dias, e quando sepulcro foi aberto, estava morto (Alguns médiuns conseguem provocar em si mesmos os sintomas da catalepsia até o estagio em que o corpo começa a apodrecer, comandando mentalmente, depois disso, a regressão do quadro cataléptico até a plena recuperação).
Na segunda Simon teria morrido em conseqüência de uma queda de grande altura no decorrer de uma demonstração de levitação diante de Nero, o imperador romano. Os traumas sofridos, por se ter chocado violentamente com o solo, teriam causado a sua morte (São conhecidos médiuns de efeitos físicos que com ajuda espiritual levitam com facilidade).
A doutrina que Simon Mago pregava era de tipo gnóstico. Ele se dizia uma emanação divina, e como tal, podia se manifestar como filho e espírito santo. Simon, que ensinava seus discípulos a vê-lo como deus, fundou uma seita e proclamou a sua deidade, afirmando que sua missão era salvar o mundo dos maus anjos, e entre eles, o deus do antigo testamento.

O maniqueísmo, tem sua origem no nome do seu fundador, Mani (216-276 d.C.), um persa nascido no norte da Babilônia que, através da religião que fundou, cultivava pretensões universais. Acreditava que era a revelação definitiva, e por isso agia com o ímpeto que julgava apropriado para suplantar as demais crenças que já existiam. Com este objetivo, Mani formulou suas idéias no plano que julgou apropriado para integrar e amalgamar entre eles, e da forma mais coerente possível, elementos da doutrina persa, budista e cristã. A minha idéia, dizia ele, em si mesma abre um espaço vastíssimo para as sensibilidades religiosas que existem, e que já são muito difundidas.
A característica central do maniqueísmo era o forte dualismo que constituía a estrutura do inteiro pensamento. Por um lado, se mantinha fiel às características gnósticas e do outro, constituía um fenômeno em si mesmo por ser uma religião universal com um fundador e com os testos que chamava “as sagradas escrituras”. Nele, com mais firmeza do que os demais movimentos gnósticos, afirmava a existência de uma nítida oposição entre o principio da “luz” – tudo o que é verdadeiramente bom, e assim sendo Divino, e o das “trevas” – tudo o que é verdadeiramente mau, como guerras, matanças etc. Deste modo, a sua doutrina se opunha frontalmente ao velho testamento.
Mani, que era o fruto de uma seita de judeus cristianizados, havia se fortemente impressionado com a leitura do apocalipse de João – Novo Testamento. Assim, ao receber o que chamou de “revelação”, se proclamou apostolo de Jesus e começou a percorrer o mundo. Por mais de trinta anos percorreu a Mesopotâmia, a Pérsia e a Índia, ao longo dos quais, alem de divulgar sua doutrina, curava enfermidade e libertava as pessoas dos espíritos malignos.
A difusão do maniqueísmo se deu também por obra dos missionários zelotas, porque estes distenderam a suas influencia não só na Síria e na Palestina, mas até na África e Europa, aonde a sua intensa atividade doutrinaria chegou a representar um perigo efetivo para o cristianismo.
A organização interna do maniqueísmo obedecia a uma estrutura hierárquica coordenada por um organograma muito bem articulado. Destacava-se uma elite - que eram os “eleitos”, e uma massa de fieis - os “ouvintes”, que diariamente ofereciam aos primeiros as ofertas que julgavam que eles mereciam. Os eleitos, ascetas e vegetarianos, ocupavam todos os cargos de comando incluindo a execução dos rituais sagrados.
A passagem da condição de “ouvinte” para a de “eleito” não exigia somente uma radical mudança no comportamento e nas atitudes pessoais, mas necessitava da plena concordância de todo o poder decisório.
Os seguidores de Mani, organizados em pequenos grupos, eram muito ativos, e assim sendo, eficientíssimos na propagação da sua religião ao redor do mundo. Por volta do VI século o Maniqueísmo registrou um certo declínio, principalmente no ocidente, e depois do século VII o movimento “pauliciano” que se desenvolveu na Armênia, mesmo se rejeitou o maniqueísmo, em certos aspectos foi por ele influenciado.


Ao redor do X século o Maniqueísmo alcançou a Bulgária e contribuiu para o desenvolvimento dos bogomilos que floresceram nos Bálcãs nos séculos XI e XII, e dos Cataros, ou Albigenses, que como veremos se difundiram nos séculos XII e XIII na França meridional e na Itália.
Na visão cósmica de Mani, existiam alguns elementos orientadores que nos detalhes se tornavam complexos. Para ele, havia sempre dois princípios independentes e contrapostos: o bem e o mal, a luz e as trevas e Deus e a matéria. Em um primeiro período estes elementos eram rigorosamente contrapostos, na segunda fase misturaram-se e na final deviam novamente se separar.
O universo, para Mani, havia sido criado para libertar a luz e punir ou aprisionar os seguidores das trevas. O contraste entre o reino do espírito - o bem, e o da matéria - o mal, era radical. Existe, dizia ele, um Deus bom, que é imaginado como um “estranho” neste mundo, e um outro mau, o Demiurgo, o demônio que criou e domina este mundo.
O mundo, segundo Mani, era constituído por elementos bons e elementos maus, e devido a este aspecto, a salvação só era possível fugindo-se do reino da matéria. Entretanto, para que isso fosse possível, era necessário possuir um perfeito conhecimento de si mesmo, para depois comandar uma ação intima com o objetivo de recuperar o verdadeiro “eu espiritual” perdido na fusão do espírito com a matéria.
Fortemente influenciado pelo platonismo, o maniqueísmo sustentava que era necessária uma permanente guerra entre o bem e o mal, porque só assim a alma humana conseguiria despertar para o conhecimento que lhe devolveria a consciência de sua origem divina. Mani afirmava que a alma do homem era uma substancia divina, em outras palavras, uma parte do próprio Deus na Terra. Por isso é a alma do homem que deve ser salva, dizia, mas o elemento que pode permitir isso é a inteligência do espírito. Deus, segundo ele, salvar-se-ia a si mesmo através do homem, e o homem salvaria a si mesmo através da substancia divina que nele habita.

O gnosticismo, considerado um movimento filosófico-religioso espontâneo e não unificado, começou a se difundir no Egito e na Palestina no tempo dos apóstolos, e se alongou até o fim do IV século. Suas origens permanecem obscuras, mas acredita-se que provavelmente nasceu como um movimento sincrético para fundir em si mesmo religiões místicas como a astrologia, magia persiana, zoroastrismo, hermetismo, kabbalah, filosofias helenísticas e judaísmo, até chegar a um sincretismo com o cristianismo dos primeiros séculos. No entanto, mesmo se é tido como um movimento finito, esta não é a verdade, porque em partes distintas continua se manifestando até os dias atuais através de inúmeros credos, mesmo se são portadores de nomes diferentes. A sua síntese, hoje muito mais aperfeiçoada, é refletida pelo Kardecismo.
É esta doutrina gnostica-cristã que homens como Ireneu, Justino, Tertuliano e outros, os chamados pais da igreja, combatiam, que permaneceu por séculos em semi-escuridão porque não havia nenhuma documentação para “iluminá-la”. A luz só veio no fim de 1945 através dos manuscritos em copto que foram descobertos em Nag Hammadi, no Egito. Um grupo de 44 obras que a igreja católica apostólica romana se preocupou imediatamente de chamar apócrifas.
O gnosticismo, no seu período de máximo desenvolvimento - ao redor do II século - distinguiu-se por duas linhas básicas:
1 O gnosticismo chamado vulgar, por ser do tipo mágico e astrológico, que teve como seus lideres Cerinto, Carpocrate, Simon Mago e Menandro.
2 O gnosticismo chamado douto, com suas grandes escolas de pensamento, que teve como lideres Basilide, Valentino, Marcione, Mani e Ario.
Por volta do IV século, o gnosticismo fluiu para a sua forma mais avançada, o Maniqueísmo, e este mais tarde se refletiu nos bogomilos - os que vieram a ser chamados os heréticos búlgaros do século XII, e os cataros - que se propagaram desde o século XII pelo sul da França, no Languedoc, contra os quais o Papa Inocêncio III, em 1209, ordenou uma cruzada para exterminá-los
Estes, como veremos, inspirados no Maniqueísmo, pregavam a austeridade e proibiam o casamento, e suas comunidades eram dirigidas pelos “puros” ou cataros, enquanto a massa era chamada “Albigense” os ouvintes.
Mais recentemente o gnosticismo influenciou muitos estudiosos cristãos como Pierre Teilhard de Chardin, Paul Tillich, Mary Baker “cristian Science” e outros não cristãos como o psicanalista Carl Jung que declarou: a gnose é seguramente o conhecimento psicológico cujo conteúdo emana do inconsciente.
Outros estudiosos identificam muitos elementos gnósticos no chamado fenômeno social-filosofico atualmente em moda chamado “New Age”.
O gnosticismo deve seu nome a “gnose”, a ciência ensinada pelos mestres gnósticos que levava ao conhecimento de Deus, da origem, e do destino da humanidade através da “revelação divina”. Esta revelação era transmitida diretamente por Jesus Cristo na forma gnostica-cristã para um restrito e selecionado grupo de apóstolos, mesmo porque, jamais alguém chegou à “revelação” só estudando, uma vez que esta exige que o indivíduo, de coração, abra mão de si mesmo em favor do seu próximo e com Ele se torne uno.
Além de lutar contra o gnosticismo, que foi alvo do seu ódio, a igreja católica naquele período teve que começar a enfrentar lutas internas que eram provocadas quando alguns dos seus bispos, por seguirem teologias diferentes, depois de serem culpados de heresias foram excomungados. A heresia ariana é um exemplo.
Ario, o mais famoso herege do IV século, chamou sua doutrina arianismo e esta se tornou uma grande alternativa do credo católico no mundo cristão daquela epoca, sem, contudo, conseguir contribuir muito para desenvolver seu pensamento.
Ario nasceu na Líbia em meados do III século d.C. e, mesmo se não existem informações a respeito da primeira parte da sua vida, tem se como certo que estudou na escola de Luciano de Antioquia, sacerdote e mártir, onde conheceu Asterio de Cappadocia e Eusébio de Nicomedia.
No ano 306, Ario, apoiou Melezio de Licopolis, fundador da igreja dos mártires confessores da qual fez parte, contra Pedro, o bispo de Alexandria, com o qual, porém, se reconciliou em seguida, e por ele foi nomeado Diácono cinco anos depois.
Dois anos mais tarde foi nomeado Presbítero por Achilleu, sucessor de Pedro, assumindo, por meio desta nomeação, a responsabilidade de uma igreja no bairro de Baucalis na cidade de Alexandria.
Depois de se empenhar a fundo no combate ao gnosticismo, além do Modalismo e Sabellianismo, em 319 entrou em rota de colisão com seu novo bispo, Alessandro, acusando-o de ensinar que o Filho, Jesus, era igual ao Pai, Deus, enquanto ele já predicava os princípios do arianismo: o filho não era igual ao pai, porque esta passara a ser sua crença.
Alessandro, em 321, convocou um sínodo no qual participaram cerca de cem bispos egípcios e libios, e neste encontro fez excomungar Ario. Este, para se proteger, fugiu inicialmente para a Palestina, mas logo depois foi se encontrar com Eusébio de Nicomedia, seu amigo, que o recebeu de braços abertos. Em seguida, foi a vez de Eusébio criar na própria diocese um centro de referencia do arianismo, e se transformar em um promotor tão aguerrido desta doutrina a ponto de levá-lo a enfrentar disputas teológicas.
Ario, de sua parte, começou a compor, como bom comunicador que era, canções e slogans para propagar suas idéias, atingindo, assim, os habitantes locais, os viajantes que por ali passavam e os marinheiros que chegavam de outras localidades. Neste tempo, a doutrina ariana foi fortalecida por vários sínodos realizados localmente, e por outros que se realizaram na Palestina e em Bitinia. Contudo, devido à ascendência de Eusébio de Nicomedia sobre o Imperador Constantino I, aquele que havia legalizado o cristianismo no ano 313, foi deste que obteve o maior apoio.

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